domingo, 6 de novembro de 2011

O Cortiço - Edição, introdução, complemento de leitura, textos de capa


Contracapa
Publicado pela primeira vez em 1890, O Cortiço descreve uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do final do século XIX.
Retrato implacável da sordidez e dos vícios humanos, o livro é uma tese determinista de Aluísio Azevedo, que revela a suscetibilidade do homem diante de certas forças, como seu meio social, sua raça, sua época.
Trata-se da obra-prima do Naturalismo brasileiro e, conforme Alfredo Bosi, “uma das conquistas definitivas do nosso romance”.


Orelha 1
“[Em Aluísio] a natureza humana afigura-se-lhe uma certa selvageria onde os fortes comem os fracos".

O Cortiço simboliza o intenso momento de transformação urbana pelo qual passou o Rio de Janeiro, a partir da segunda metade do século XIX. Dentro da linha realista-naturalista, narra a ascensão do imigrante português.”
José Veríssimo

O Cortiço representa uma das conquistas definitivas do nosso romance. [Aluísio] (...) tendo pesquisado, à maneira naturalista, tipos, fatos, situações em diferentes circunstâncias e camadas sociais, contou com um material de observação suficiente para dar ao seu romance uma categoria social de indiscutível valor e importância.”
Antonio Candido

Orelha 2
Influenciado por Eça de Queirós e Émile Zola, Aluísio Azevedo foi o introdutor do Naturalismo no Brasil, tendo sido seu maior representante no país.
Foi um crítico tenaz da sociedade e de suas instituições. Trabalhando por meio da observação de determinadas características sociais, buscava destacar os aspectos mais repugnantes e grotescos da realidade, retratando o ser humano como animal.
Foi consagrado por três obras: O mulato, Casa de pensão e O Cortiço, sua obra-prima.

REALISMO/NATURALISMO
Taís Gasparetti

O Realismo foi um movimento literário que se iniciou na Europa, na segunda metade do século XIX, com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
Fazendo oposição ao idealismo do movimento romântico, os realistas concebiam os fatos de forma mais objetiva e fiel à vida real. Assim, o romance deixa de ter a função de distrair e entreter, como boa parte da produção folhetinesca do Romantismo, e toma nova importância: mostrar a realidade, diagnosticar as patologias humanas e sociais, apontar a corrupção e os desvios de caráter da sociedade.
O Naturalismo surgiu na mesma época, idealizado pelo francês Émile Zola, e foi um movimento caracterizado pela radicalização do Realismo, tendo em vista o objetivo de comprovar os fatos e as ações dos personagens do ponto de vista das ciências naturais, com o intuito de provar que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. Nas palavras de Alfredo Bosi,[1] “o Realismo se tingirá de Naturalismo, no romance e no conto, sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das ‘leis naturais’ que a ciência da época julgava ter codificado”.


Contexto histórico

A partir da segunda metade do século XIX, a Europa passa por grandes e significativas mudanças. Muitas delas responsáveis pela constituição das sociedades ocidentais de hoje.
A burguesia começa a, definitivamente, tomar espaço. Com isso, os interesses burgueses, industriais e materialistas passam a imperar; as cidades industriais se desenvolvem e o grande contingente de operários que nelas passa a viver e trabalhar revolta-se; agitações políticas espalham-se pelo continente.
Ao mesmo tempo, a ciência – sobretudo a natural – passa por um desenvolvimento tão intenso que, com seus métodos de experimentação e observação da realidade, se torna a única apta a explicar o mundo.


Influências

De acordo com esse contexto, algumas teorias, além de marcar a época, influenciaram o surgimento e a constituição dos ideais realistas/naturalistas. Dentre elas, destacamos:

o  Positivismo – teoria segundo a qual apenas por meio da experiência se chega à “verdade”. Um de seus defensores foi Auguste Comte, pensador e sociólogo francês – e considerado precursor da Sociologia – que defendia que a análise social deveria se basear nos métodos positivos adotados por outras ciências: como a observação, a comparação e a experimentação.

o  Darwinismo – como ficou conhecida a teoria da seleção natural, segundo a qual apenas os mais aptos e fortes de cada espécie conseguiriam sobreviver. Foi o cientista natural inglês Charles Darwin – que chocou o mundo com o fruto de suas pesquisas (e até hoje é alvo de polêmicas) – que, com a publicação da obra A origem das espécies, embasou essa teoria. Para o Realismo/Naturalismo, a consequência dessa corrente filosófica é a visão do homem como um animal (que, como outras espécies, evoluiu), em detrimento da visão espiritualizada do Romantismo.
 
o  Determinismo – teoria segundo a qual o homem é condicionado pelos fenômenos que vivenciou, passando a ser deles consequência. Assim, fatores como o meio social e a herança genética explicam suas decisões e comportamentos.


O AUTOR

Aluísio Azevedo (1857-1913) nasceu em São Luís-MA, filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães. Aos 17 anos viajou para o Rio de Janeiro a convite do irmão, o teatrólogo Artur Azevedo, e começou a estudar na Academia Imperial de Belas-Artes. Tão logo se estabeleceu no Rio, passou a colaborar com caricaturas e poesias em jornais e revistas.
Para ganhar a vida como escritor, dedicou-se a dois tipos de literatura: a primeira, escrita para ganhar o público geral e vender bem, tem início a partir da publicação de Uma lágrima de mulher (1880); a segunda, como ideal literário e forma de expressar sua visão de mundo, que o tornou célebre até os nossos dias como naturalista, tem início com O mulato (1881), seguida da publicação de Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890), sua obra-prima.
Em 1895, Aluísio ingressou na carreira diplomática e encerrou a sua história na literatura brasileira. Morreu, a serviço, na Argentina, em 1913.


O NATURALISMO DE ALUÍZIO AZEVEDO


Influenciado por Eça de Queirós e Émile Zola, Aluísio Azevedo foi o introdutor do Naturalismo no Brasil, tendo sido seu maior representante no país.
Foi um crítico tenaz da sociedade e de suas instituições. Trabalhando por meio da observação de determinadas características sociais, buscava destacar os aspectos mais repugnantes e grotescos da realidade, retratando o ser humano como animal, com o intuito de estabelecer uma tese determinista.
De vocabulário rico e detalhista ao caracterizar os costumes, a moda e as interdições da época, Aluísio apresentava análises de cunho materialista e enredos de ritmos vertiginosos. Seus temas prediletos foram o anticlericalismo, o preconceito racial, o adultério e os vícios morais.
Para ganhar a vida como escritor, dedicou-se a dois tipos de literatura: uma com intuito meramente comercial e outra como ideal literário. A segunda o consagrou na literatura e é marcada por três obras:
 - O mulato, obra considerada marco do Naturalismo no Brasil, que provocou um grande escândalo na sociedade da época.
- Casa de pensão (1884), que descreve a vida nas pensões onde jovens estudantes do interior se hospedavam e foi inspirada em um caso policial verídico ocorrido no Rio de Janeiro.
- O cortiço (1890), sua obra-prima, que narra a vida miserável dos moradores de habitações coletivas no Rio de Janeiro.


SOBRE O CORTIÇO

Retratando uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do final do século XIX, O Cortiço é uma tese determinista de Aluísio Azevedo e mostra como o homem é suscetível a forças maiores do que ele: o seu meio social, a sua raça e o seu momento histórico. Nesse livro, o autor traça um retrato implacável da sordidez e dos vícios humanos.
 Com diversos personagens marcantes que vão se corrompendo no decorrer da narrativa, é difícil definir o protagonista, pois mais forte que todos eles é o próprio Cortiço, que, como que personificado, possui uma história própria e cresce – como personagem esférico – no decorrer da narrativa.
Diversas histórias se relacionam para constituir a do Cortiço, símbolo do meio social que corrompe o indivíduo, tendo mais força do que o caráter ou a vontade individual. Destacam-se os personagens João Romão, português ganancioso e dono do cortiço; Bertoleza, escrava que trabalha para comprar sua alforria e torna-se companheira de João Romão, sendo explorada por ele; Miranda, representante da família burguesa; Rita Baiana, mulata sensual, amante de um capoeira; Jerônimo, português trabalhador, símbolo da moral e da ética; Pombinha, adolescente pura e estudada.
A trama é claramente uma tese determinista que, como uma teia que vai amarrando e dominando a presa, se prova por meio dos personagens que se corrompem. Além disso, sob influência darwinista, é o mais “forte” quem sempre obtém sucesso. A fêmea domina o macho porque detém sobre ele o poder da sedução e do instinto. O ganancioso enriquece às custas da exploração dos honestos.




[1] BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1976, p. 214.

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