sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Net Educação - Texto sobre Capitães da Areia, de Jorge Amado

A narrativa de Jorge Amado, de cunho documental e realista, aborda a crueldade da vida dos meninos de rua, a luta diária por alimento e dinheiro.
 
AutorJornalista e romancista, Jorge Amado nasceu em Itabuna-BA em 1912. Filho do Coronel João Amado de Faria e de D. Eulália Leal Amado, passou a infância em Ilhéus. Cursou o secundário em Salvador, onde viveu a adolescência e teve os primeiros contatos com a vida popular, que marcaria profundamente a sua obra.

Aos 14 anos, começou a trabalhar em jornais e iniciou a vida literária. Formou-se em Direito no Rio de Janeiro, mas jamais advogou. Em vez disso, dedicou-se à literatura e à política. Casou-se com Zélia Gattai e teve dois filhos.

Estreou na literatura em 1930, com a publicação da novela Lenita, escrita em colaboração com Dias da Costa e Édison Carneiro. Autor de vasta obra, foi traduzido para 48 idiomas e dialetos. Teve também romances adaptados para o cinema, o teatro, o rádio e a televisão.

Em 1945, foi eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo. Participou da Assembleia Constituinte de 1946 (pelo Partido Comunista Brasileiro) e da primeira Câmara Federal após o Estado Novo, tendo sido responsável por diversas leis em detrimento da cultura.

Por motivos políticos, viveu exilado na Argentina e no Uruguai (1941-1942), em Paris (1948-1950) e em Praga (1951-1952). Morreu em Salvador em 2001.
Contexto e análise da obraPara que se compreenda com profundidade a obra Capitães da Areia, de Jorge Amado, é preciso entender o contexto histórico da década em que foi escrita: 1930.

Como resposta ao colapso econômico do país após a queda da Bolsa de Nova York, o Brasil viveu a Revolução de 30. Reflexo da revolta de jovens militares, da população de classe média, do proletariado urbano e das oligarquias nordestinas e sulistas, a Revolução foi idealizada a partir da aliança desses setores e outros, também marginalizados politicamente.
Jorge Amado foi um dos mais importantes militantes dessa época e um dos autores responsáveis pela criação de um estilo novo na literatura, moderno e liberto da linguagem tradicional. Nele, incorporou-se a linguagem regional e as gírias locais.

Capitães da areia foi publicado em 1937 e pertence à primeira fase de Jorge Amado. Mostra as diferenças de classe, a má distribuição de renda e os efeitos da marginalidade na vida de crianças e adolescentes, que vivem brutalizados por um sistema social perverso. Trata-se de uma das obras de maior engajamento social e político do autor, que pertenceu ao Partido Comunista Brasileiro.
Resumo do enredoO romance Capitães da Areia narra a realidade de menores abandonados da Bahia, que vivem num velho trapiche. O grupo, liderado por Pedro Bala, é composto por meninos que lutam diariamente pela sobrevivência, tornam-se homens muito cedo, aprendem a reagir à situação de que são vítimas. Possuem vida sexual, lidam com dinheiro, enganam, roubam, estupram, enfrentam a polícia, aprendem que a infância não é para eles. Adquirem a malícia necessária para sobreviver ao meio. No entanto, são meninos, cheios de sonhos, mas sem família, colhendo migalhas de amor, abandonados pela vida.

Jorge Amado opõe a crueldade – o que recebem da sociedade e por isso devolvem – e a pureza – característica de toda criança.

Filho de um líder sindical, Pedro Bala fica órfão muito cedo e aprende a lidar com a realidade das ruas. Cheio de ousadia e coragem, torna-se o líder dos Capitães de Areia. Conhece os prazeres sexuais também muito jovem, tanto ele como os demais do grupo estupram as negrinhas nas ruas à noite e frequentam bordéis. Apesar disso, Pedro descobre o amor puro da adolescência com Dora, menina órfã cujos pais morrem da epidemia de varíola.

Dora torna-se sua noiva e integrante ativa do grupo, participando de todas as ações na companhia dos meninos. Mas em um dos roubos, os Capitães de Areia são presos pela polícia. Num ato de coragem, Pedro Bala consegue distrair os policiais para que os amigos possam fugir. No entanto, ele e Dora são presos. O líder dos Capitães vai para o reformatório, onde é torturado pela polícia; e Dora, para o orfanato, onde também sofre maus-tratos. Bala consegue fugir e resgata a namorada, que adoece pelo tratamento recebido. O casal vive uma noite de amor e Dora amanhece morta. O menino sofre mais uma grande perda em sua vida.

Tendo Dora como musa, como a mulher mais forte que já existiu na Bahia, “mais valente que Rosa Palmeirão, que Maria Cabaçu”, Pedro Bala continua a luta diária, e encontra na luta sindical a esperança. Pedro é mais que um líder de meninos abandonados, é um forte, um herói, representa o idealismo e a resistência.

O grupo possui ainda outros personagens importantes: o negro João Grande, bondoso e forte; o Professor, de grande potencial artístico e intelectual; Pirulito, místico e introvertido; o Gato, elegante e conquistador, típico malandro brasileiro; o Sem-Pernas, menino com deficiência, cuja revolta encobre a pureza e a bondade; Volta Seca, afilhado de Lampião.

A narrativa, de cunho documental e realista, aborda a crueldade da vida desses meninos de rua, a luta diária por alimento e dinheiro. As desigualdades sociais e o comportamento violento dos meninos são abordados como frutos da marginalização; da desonestidade, do egoísmo e do pouco caso das classes dominantes.

Por outro lado, no meio dessa realidade fria, cenas de singelo lirismo mostram a pureza das crianças. O autor conduz a narrativa em detrimento dos destinos individuais de cada participante do grupo, que adquirem, com a luta, a resistência e a consciência revolucionária. Os meninos tornam-se marginais em decorrência da opressão social, mas conquistam o heroísmo ao lutar pela dignidade.

Veja mais em: http://www.educandusweb.com.br/neteducacao/portal_novo/?pg=pesquise/artigo&cod=2015

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