sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Net Educação: texto sobre Vidas secas, de Gracilliano Ramos

O romance foca o regionalismo, o nordestino, de modo que emergem problemas como a seca, a migração, a miséria do trabalhador rural e a ignorância imposta pela falta de oportunidades.
AutorNascido em 1892 em uma família de classe média do sertão nordestino, em Quebrângulo-AL, Gracilliano Ramos passa uma parte da infância em Buíque-PE e outra em Viçosa-AL. Cursa o secundário em Maceió e, em 1910, muda-se com a família para Palmeira dos Índios-AL.

Mais tarde, passa a viver no Rio de Janeiro, onde trabalha como revisor de textos. No entanto, em virtude da morte de três irmãos, de peste bubônica, retorna em 1914 para o Alagoas.

Passa então a dedicar-se ao jornalismo e à política em Palmeira dos Índios, onde chega a ser prefeito, de 1928 a 1930.
Muda-se em 1930 para Maceió e passa a dirigir a Imprensa e Instrução do Estado. Publica seu primeiro romance – Caetés – em 1933, e a seguir, São Bernardo – em 1934 – e Angústia – em 1936. Esses romances incitam no leitor uma visão crítica da sociedade moderna. Gracilliano Ramos parte do regional para o universal, evidenciando a opressão pelas classes superiores e buscando desvendar psicologicamente o ser humano – seus dramas e as razões que justificam suas atitudes.

Ainda em 1936, acusado de ter conspirado no levante comunista de 1935, é preso em Maceió e enviado a Recife. Segundo o professor Carlos Eduardo Ornellas Berriel, logo depois desse evento em 1935, "houve um movimento de caça às bruxas, de gente que queria acertar as contas com seus desafetos, diziam que eram comunistas e acabavam presos. Graciliano foi preso depois de ser denunciado como comunista. Mas só ingressaria no PCB em 1945”. Em Memórias do Cárcere, publicado em 1953, o autor relata esse duro período.

Em 1936, é solto e muda para o Rio de Janeiro, onde continua a sua carreira literária escrevendo contos, livros infantis e romances. Publica Vidas Secas em 1938. Em 1945, filia-se ao Partido Comunista e realiza uma viagem a diversos países comunistas, que será relatada no livro Viagem, publicado em 1953, ano de sua morte.

C
ontexto e análise da obraPara que se compreenda com profundidade a obra Vidas Secas, de Gracilliano Ramos, é necessário que se conheça um pouco a respeito do contexto de época e do movimento literário em que é classificada.

A obra se insere na segunda fase do Modernismo brasileiro, que compreende as décadas de 1930 e 1940, período em que o Brasil e o mundo viviam profundas crises. O mundo, em virtude da crise da Bolsa de Nova Iorque, do combate ao comunismo e do nazifascismo – que desencadearão a II Guerra Mundial; o Brasil, principalmente em razão da crise cafeeira. Dessa maneira, esse quadro social, econômico e político inspira uma nova postura dos artistas diante da realidade, uma nova posição ideológica. Na literatura brasileira, isso influencia os escritores brasileiros a privilegiar a análise crítica da realidade: analisando-a e/ou denunciando-a, como é o caso de Gracilliano Ramos.

Desse modo, percebemos na prosa o interesse por temas nacionais, a criação de uma linguagem mais brasileira e um enfoque social mais direto em relação ao Realismo/Naturalismo – da segunda metade do século XIX –, em que os autores apontavam críticas, porém de maneira mais geral, sem o aprofundamento e o detalhamento das situações evidenciadas pelos modernistas.

O romance passa a focar o regionalismo – no caso de Gracilliano Ramos, o nordestino – de modo que emergem problemas como a seca, a migração, a miséria do trabalhador rural e a ignorância imposta pela falta de oportunidades.
Resumo do enredoFormado por 13 capítulos que se justapõem sem uma ligação lógica e podem ser lidos separadamente e em qualquer ordem como contos independentes, Vidas Secas narra a saga de uma família de retirantes, constituída pelo pai (Fabiano), a mãe (Sinhá Vitória), o menino mais velho e o menino mais novo (os filhos do casal que não levam nomes) e Baleia (a cachorrinha).

Confundidos com a paisagem áspera do sertão, os personagens de Vidas Secas vivem o drama da seca e são esculpidos por ela. Por meio de uma linguagem dura e direta, o narrador decifra o homem do sertão, a condição animalesca a que é submetido, as esperanças sempre esmiuçadas.

É importante notar que os personagens quase não se comunicam; e quando isso acontece, é por meio de palavras secas e diretas – como quando Fabiano, irritado com os filhos, em vez de dar explicações sobre os comportamentos que julga inadequados, xinga-os simplesmente. Outro dado notável é o fato de os meninos não levarem nomes, estratégia do autor para denunciar a realidade mesquinha a que são submetidos os retirantes que, citando João Cabral de Melo Neto, “são tantos e iguais em tudo na vida”.

O livro se inicia com a família a vagar pelo sertão nordestino em busca de um lugar para viver. Depois de peregrinação exaustiva, eles encontram uma fazenda abandonada, onde passam a noite. Fabiano, então, vê uma esperança e sente-se um bicho, um animal que cumpre seu dever, que luta pela sobrevivência da prole.

No entanto, essa esperança é despedaçada com a chegada do dono da fazenda, que os ameaça expulsar de seu território. Fabiano, então, implora trabalho e a família acaba ficando na fazenda. Sente-se um bicho novamente, mas agora em sentido negativo.

A família vive na fazenda por um ano, e Fabiano trabalha arduamente como vaqueiro, sem, no entanto, receber um salário justo. A família vai a uma festa na cidade, e Fabiano é convidado por um soldado a jogar baralho, de modo que aposta todo o salário. Ao perceber que perderia, resolve abandonar a partida. Entretanto, é abordado pelo soldado, que provoca uma briga. Este, então, chama a polícia e Fabiano é preso e agredido com um facão.

Sinhá Vitória e os meninos passam a noite na calçada e, no dia seguinte, Fabiano é liberado da prisão pelo padre. Tempos depois, Fabiano reencontra o soldado, e acaba engolindo novamente a raiva que sente e tratando-o cordialmente.

Baleia adoece e é sacrificada por Fabiano. Todos sofrem. Inicia-se um novo período de seca e a família mais uma vez prepara a retirada, desta vez para a cidade grande, onde havia chances de uma vida melhor.

Veja mais em: http://www.educandusweb.com.br/neteducacao/portal_novo/?pg=pesquise/artigo&cod=2034

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