sábado, 5 de novembro de 2011

Dom Casmurro - Edição, introdução, guia de leitura, textos de capa


Contracapa

Publicado pela primeira vez em 1900, Dom Casmurro é o romance mais famoso e polêmico de Machado de Assis. Ambientado no Rio de Janeiro do século XIX, é narrado por seu protagonista: o Dom Casmurro, um velho solitário e frustrado que, em virtude de sua “simpatia”, recebe esse apelido de um conhecido.
O personagem busca, por meio da narrativa, rememorar e compreender fatos do seu passado: principalmente os que envolvem uma mulher: Capitu, a personagem mais intrigante e misteriosa da literatura brasileira.
A polêmica toda se centraliza em uma dúvida: Capitu é ou não culpada de adultério? Os fatos até podem indicar que sim, mas o leitor não pode deixar de atentar para um fato: Bento Santiago – o Dom Casmurro –, além de narrador, é advogado. Não teria ele todos os atributos intelectuais para envenenar a narrativa, de modo a convencer o leitor a condenar Capitu?
Obra lida no mundo todo por sua genialidade não pode deixar de ser deliciada pelo leitor brasileiro.

Orelha da contracapa

Órfão, pobre, mulato, gago e doente em pleno século XIX, Machado de Assis, apesar das dificuldades, foi tipógrafo, comentarista, jornalista e, como escritor, tornou-se um inegável prodígio da Literatura Brasileira.
Autor de vasta obra entre praticamente todos os gêneros, foi no romance e no conto que mais se destacou. Com seu estilo conciso, sua ironia, seu humor e com a análise psicológica dos seus personagens, Machado de Assis inaugurou o Realismo no Brasil e foi o autor mais importante do estilo em nosso país.

Orelha da capa

Os críticos estavam interessados em buscar a verdade sobre Capitu, ou a impossibilidade de se ter a verdade sobre Capitu, quando a única verdade a ser buscada é a de Dom Casmurro.
Silviano Santiago

Dentro do universo machadiano, não importa muito que a convicção de Bento seja falsa ou verdadeira, porque a consequência é exatamente a mesma nos dois casos: imaginária ou real, ela destrói sua casa e a sua vida.
Antônio Cândido

Um homem inteligente, sem dúvida, mas simples, que desde rapazinho se deixa iludir pela moça que ainda menina amara, que o enfeitiçara com a sua faceirice calculada, com a sua profunda ciência congênita de dissimulação, a quem ele se dera com todo ardor compatível com o seu temperamento pacato.
José Veríssimo

Até você, cara - o enigma de Capitu? Essa, não: Capitu inocente? Começa que enigma não há: o livro, de 1900, foi publicado em vida do autor - e até sua morte, oito anos depois, um único leitor ou critico negou o adultério?
Dalton Trevisan

Quem fica tiririca, e com toda a razão, com essa história mal contada, e tão mal contada que desmente o próprio Machado de Assis, é o Dalton Trevisan (...) Dar o Bentinho como o “nosso Otelo” é pura fantasia. Bestialógico mesmo.
Otto Lara Resende

REALISMO

O Realismo foi um movimento literário que se iniciou na Europa, na segunda metade do século XIX, com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
Fazendo oposição ao idealismo do movimento romântico, os realistas concebiam os fatos de forma mais objetiva e fiel à vida real. Assim, o romance deixa de ter a função de distrair e entreter, como boa parte da produção folhetinesca do Romantismo, e toma nova importância: mostrar a realidade, diagnosticar as patologias humanas e sociais, apontar a corrupção e os desvios de caráter de toda a sociedade.


Contexto histórico

A partir da segunda metade do século XIX, a Europa passa por grandes e significativas mudanças. Muitas delas responsáveis pela constituição das sociedades ocidentais de hoje.
A Burguesia começa a, definitivamente, tomar espaço. Com isso, os interesses burgueses, industriais e materialistas passam a imperar; as cidades industriais se desenvolvem e o grande contingente de operários que nelas passa a viver e trabalhar revolta-se; agitações políticas espalham-se pelo continente.
Ao mesmo tempo, a ciência – sobretudo a natural – passa por um desenvolvimento tão intenso que, com seus métodos de experimentação e observação da realidade, se torna a única apta a explicar o mundo.


Influências

De acordo com esse contexto, algumas teorias, além de marcar a época, influenciaram o surgimento e a constituição dos ideais realistas. Dentre elas, destacamos:

o   Positivismo – teoria segundo a qual apenas por meio da experiência se chega à “verdade”. Um de seus defensores foi Auguste Comte, pensador e sociólogo francês – e considerado criador da Sociologia – que defendia que a análise social deveria se basear nos métodos positivos adotados por outras ciências: como a observação, a comparação e a experimentação.

o   Darwinismo – como ficou conhecida a teoria da seleção natural, segundo a qual apenas os mais aptos e fortes de cada espécie conseguiriam sobreviver. Foi o cientista natural inglês Charles Darwin – que chocou o mundo com o fruto de suas pesquisas (e até hoje é alvo de polêmicas) – que, com a publicação da obra A origem das espécies, embasou essa teoria. Para o Realismo, a consequência dessa corrente filosófica é a visão do homem como um animal (que, como outras espécies, evoluiu), em detrimento da visão espiritualizada do Romantismo.

o   Determinismo – teoria segundo a qual o homem é condicionado pelos fenômenos que vivenciou, passando a ser deles consequência. Assim, fatores como o meio social e a herança genética explicam suas decisões e comportamentos.


O REALISMO DE MACHADO DE ASSIS


Para os adeptos do movimento realista, a sociedade estava cheia de problemas que precisavam ser apontados (de forma objetiva e verossímil, por isso, através da ciência) para que pudessem ser resolvidos. E esse era o papel dos realistas, diagnosticar, mostrar o que – verdadeiramente – acontecia, sem as idealizações dos românticos.

No entanto, cada autor enfocou e desenvolveu esses princípios a sua maneira. Aluísio Azevedo focou nas patologias sociais, explicadas sob a ótica determinista; Eça de Queirós, na hipocrisia da sociedade e dos seus papéis. Machado de Assis, que inaugurou o Realismo no Brasil em 1881, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, criou um estilo completamente novo e próprio com base nesses preceitos. O cientificismo do movimento tomou forma nas suas obras por meio da análise psicológica; a crítica à sociedade desenvolveu-se com base nos indivíduos que a constituem: os homens, por isso a análise da constituição moral do ser humano.

SOBRE DOM CASMURRO
A QUESTÃO INDECIFRÁVEL: HOUVE ADULTÉRIO?

Com o enredo iniciado pelo final e desenvolvido em flash-back, Dom Casmurro foi publicado pela primeira vez em 1900. O título é o apelido que Bento Santiago, o protagonista, recebeu, sarcasticamente, de um conhecido que se sentiu desrespeitado por sua falta de disposição em ouvir seus versos. Assim, o apelido tornou-se motivo de piada, e Bento acabou por aceitá-lo, afinal, combinava com a sua personalidade.[1]
Dom Casmurro, velho solitário e frustrado com a vida, busca por meio da narrativa rememorar e compreender fatos do passado: o romance com Capitu, o período no seminário, o relacionamento com os familiares e amigos, o casamento desfeito – enfim aquilo que transformou o menino – puro e ingênuo – no velho – solitário e infeliz.
A vida de Bento transcorre sem grandes incidentes até uma tarde, em 1857, quando descobre a intenção da mãe em fazê-lo padre, em virtude de uma promessa que fez ainda grávida, por ter perdido o primeiro filho. Surpreso, Bento conta tudo a Capitu – vizinha, amiga e primeiro e único amor de sua vida. O conflito os aproxima ainda mais, e eles juram no futuro se casar.
Muitos anos se passam até que o casamento possa efetivamente ocorrer. Nesse intervalo, Bento passa por diversos acessos de fúria, por ciúmes da amada. E, depois de casado, ele se mostra cada vez mais ciumento, e isso se agrava ainda mais com o nascimento do filho, que se torna a cada dia, segundo ele, mais parecido com seu melhor amigo: Escobar.
Com a publicação da obra, grande polêmica é criada em torno de Capitu. Teria ela dado razões para a desconfiança do marido? Ou teria o ciúme do marido desencadeado o adultério? Ou Capitu era, desde sempre, inocente, e tudo não passou de delírios da mente doentia de Bento?
Por um lado, alguns fatos evidenciam a efetivação do adultério: como a personalidade de Capitu – os olhares e tudo o que causava os ciúmes do marido – e a semelhança do filho com o amigo, Escobar. Em contrapartida, Capitu não tem defesa: toda a história é narrada por seu marido ciumento.
Eis o caminho para se compreender Dom Casmurro. A narrativa não segue uma ordem linear, cronológica, e sim psicológica, ou seja, o mais importante – a alma da obra – não está propriamente nos fatos, mas na constituição psicológica e moral de seus personagens. Machado criou uma narrativa completamente unilateral: só conhecemos a visão de mundo de Bento, os fatos seguem a sua perspectiva, e o próprio enredo é secundário em relação à análise do personagem.
Além disso, um detalhe torna a obra de Machado de Assis ainda mais intrigante e genial: Bento Santiago é advogado, ou seja, possui todos atributos formais para narrar os fatos do modo como lhe convém, ou como melhor convence seu leitor. Assim, como condenar alguém sem conhecer a sua versão dos fatos?


[1] Casmurro significa calado, metido consigo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário